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Erika fala sobre processo de recuperação e retorno aos gramados pelo Corinthians: 'É surreal'

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Erika em ação no clássico entre Corinthians e Santos, na última quarta-feira

Erika em ação no clássico entre Corinthians e Santos, na última quarta-feira

Rodrigo Gazzanel / Agência Corinthians

Dois anos depois de uma ruptura no ligamento cruzado anterior do joelho, Erika retornou aos gramados em março de 2024 para defender o Corinthians Feminino em uma partida oficial. Agora, depois de recuperada, ela retomou seu espaço na equipe corinthiana e se tornou uma das principais peças do elenco de Lucas Piccinato com base na superação.

"Dar a volta por cima é sensacional. É a minha vida. Eu sempre vou dar a volta por cima. Acho que eu aprendi, eu fui orientada assim pela minha família, de não desistir. Eu vou até o final. E se um eu desistir, não me deixa não, viu? Não deixa, não. Se um dia eu pensar, não deixa não. Mas essa música (Volta por cima, do Jorge Aragão) faz todo o sentido no que eu vivi, no que foi a minha vida. Tudo isso junto com a fênix, de renascer do nada, quando ninguém espera. Quando acha que eu não aguento mais, que eu não vou conseguir, aí vem a Erikota e, VRAU, ressurge", contou Erika à Corinthians TV.

Na noite da última quarta-feira, quando foi titular no empate por 1 a 1 contra o Santos, na Fazendinha, Erika atingiu a marca de 100 jogos pelas Brabas e aproveitou a conversa com o canal oficial do Corinthians para relembrar sua lesão e todo o processo de recuperação. Segundo ela, a ruptura que a afastou nos gramados aconteceu naquele que era seu "melhor momento".

"Primeiro que eu achava que eu estava no meu melhor momento. Geralmente é assim. Você sempre se machuca quando parece que você está no seu melhor momento. E a gente estava em um treino, na Libertadores. Nós estávamos fazendo um trabalho de 'dois para um'. Eu era essa 'um' que marcava, espacinho pequenininho. E aí era a Pardal e a Gil para fazer o golzinho contra mim. Super simples o trabalho, comecinho. Não tinha nada de cansaço. Geralmente a gente fala 'se machuca porque estava cansada' ou 'estava no ciclo menstrual' ou algo do tipo, se tinha dor. Não, não tinha nada. Nada nesse joelho, nada. E aí, de repente, eu fiz um movimento em que eu estava marcando a Pardal e quando eu fui, ela tocou a bola para a Gil, eu fui para roubar a bola da Gil, a Gil deu o corte. E aí nunca mais voltei", relembrou a jogadora.

Com muita emoção, a jogadora falou sobre o acolhimento que recebeu de suas companheiras de time e de toda a equipe do Corinthians, além de ter comentado sobre o papel de liderança que assumiu diante de jogadoras mais novas. Confira os principais trechos da entrevista abaixo.

A lesão

No final de 2021, quando o Corinthians disputava a Conmebol Libertadores Feminina daquele ano, Erika precisou deixar a delegação por conta da grave lesão sofrida. Apesar de já ter passado pela mesma situação duas vezes antes, a zagueira afirma que esta última foi a pior de todas.

"Eu não queria estar passando por aquele momento de novo. Foi bem... Acho que foi uma das piores mesmo foi essa daí. Uma das piores, não. Acho que a pior de todas foi essa daí. A gente acha que sempre é a primeira ali, por tudo o que acontece. 'Ah, nunca passei'. Mas tirei de letra a primeira. A segunda... Agora, essa terceira, foi mais complicado", afirmou.

Segundo ela, o abalo emocional após a lesão foi muito grande e ela sentiu que talvez sua história no futebol tivesse acabado. O apoio de suas companheiras e amigas de elenco, principalmente de Adriana, foi fundamental para que ela encontrasse a força necessária para, mais uma vez, se recuperar.

"Acho que foi um dos momentos mais marcantes da minha vida assim. Foi, porque, na final, a Dri vai lá e pega minha camisa. Ali saiu em todos os lugares, todos os lugares que você imagina. Um monte de gente postando e me mandando. Cara, eu fiquei tão feliz. Parecia que tinha... E aí acho que me deu uma tranquilizada, assim. De falar 'ei, calma. Já já você volta. Mais nove meses e você tira de letra, aí você volta'. Só que aí, no decorrer disso tudo, foi difícil, né. Porque eu tinha muitos pensamentos. Acho que dava um mês, aí você falava 'meu Deus, ainda faltam oito meses'. Aí quatro meses, e você 'caramba, mas eu tô com uma dor que não sai'. Aí cinco meses, seis meses, sete meses, e essa dor que não sai. E aí muita coisa aconteceu nesse tempo, e coisas que eu não tinha nas outras recuperações, nas outras reabilitações. E eu achava muito estranho isso. Então isso foi me desanimando um pouco, aí chega um momento em que você fala 'caramba, acho que eu quero desistir. Acho que meu corpo não aguenta mais'. Aí tem um momento em que você fala 'ei, para de ser louca. você passou por tanta coisa na sua vida. Você tem que continuar'. Então, opa, volta, Erika", afirmou.

Com uma recuperação mais lenta, Erika se viu obrigada a entender que seria preciso compreender novamente o corpo que habitava. Calejada por lesões anteriores, a zagueira passou a olhar para a sua recuperação com mais cuidado.

"Não era mais o mesmo joelho, eu já tinha uma cirurgia. E aí, em ressonâncias, não saía nada disso. Mas sempre saía edema, sempre saía tá inflamado, tá inchado, tá alguma coisa. Mas não tinha algo específico. Então, era uma reabilitação. Era assim, não vamos acelerar o processo de reabilitação, vamos aos poucos. E agora seu corpo é diferente. E agora seu joelho é diferente, já é mexido. Então vamos dar atenção".

O retorno

Em março de 2024, já sob o comando de Lucas Piccinato, Erika foi liberada para voltar a jogar futebol. Sua liberação só foi possível pelo trabalho conjunto entre ela e o departamento médico do Corinthians, que lhe deu liberdade para determinar o momento correto de retomar sua carreira. Seu retorno, porém, foi um marco especial em sua história.

"Foi muito gostoso passar por isso de novo. Era uma convocação, sabe? Tipo, tô indo para o jogo! Se ele não for utilizar, tá bom! Tá tudo bem, eu tô no banco, tô lá com vocês, balançando o joelhinho, gritando, torcendo, indo para o aquecimento. Estava feliz para caramba", contou.

Logo aos 13 minutos do segundo tempo, Erika é chamada ao campo. Tomada pela emoção e ansiedade de retornar, ela conta que foi pega de surpresa pela decisão do treinador de utilizá-la por tanto tempo, mas conta que aproveitou todas as oportunidades que se desenharam.

"Aí, de repente, tô no aquecimento e ele me chama. Não imaginei. Eu juro que não imaginei. E aí as meninas até falaram: 'qualquer coisa, acho que até uns cinco minutinhos'. Falei 'não, certeza, uns cinco minutinhos'. Que é isso, cara? Com 13 minutos, o cara vai lá e fala: 'Erika'. Eu até olhei para trás para ver. As meninas: 'é você, ô! Vai!'. Eu falei 'cara, que daora, que gostoso'. E que momento! Aí todo mundo gritando, a torcida gritando, e falando meu nome. Nossa, que gostoso, cara", relembrou.

A noite foi marcada ainda por uma série de homenagens à Erika. Das arquibancadas, ainda no momento do aquecimento do time, o primeiro da zagueira em dois anos, surgiu um bandeirão em sua homenagem que dizia: "1% de chance, 99% de fé. A fênix renasce outra vez".

"Aí chega lá no aquecimento, também, aquela bandeira lá no começo. Eu nem imaginava aqui! Que é isso, que carinho da torcida, da galera. Fui procurar saber quem que tinha feito tudo. Aí Veridiana, Bia, Fábio, uma galera. Aí quem foi a dona do tráfico tudo? Eu falei, foi a 'veia', D. Jane, minha mãe. Aí eu falei 'ah, não é possível que você fez isso, não'. Aí ela falou 'era o momento para você. De alguma forma as meninas também se empenharam em tudo isso. Pegaram minha ideia, a ideia delas, e aí a gente fez'. Eu falei 'mentira, mãe, que você fez tudo isso'. E ela falou 'não, era o seu momento, se você entrasse ou não, a gente queria proporcionar isso para você para você sentir o quanto a galera queria que você voltasse. Se era querida ou não, não sei, mas o quanto queria que você voltasse'. Aí foi muito gostoso isso", disse ela muito emocionada.

Amadurecimento e papel de liderança

Durante o seu processo de recuperação, Erika passou a entender a vida do atleta de alto rendimento de forma diferente. Segundo ela, é comum ignorar incômodos físicos e dores por ser parte do dia a dia de um jogador de futebol, mas a zagueira defende que é preciso ouvir os sinais que o próprio corpo oferece, e agora ela tenta passar esta visão às jogadoras mais novas.

"Eu joguei muito tempo da minha vida em alto rendimento, eu não sentia dor. 'Ah, não, mas você tem uma dorzinha aqui'. 'É normal! Você é atleta'. Você tem que parar com isso. Quando você tem uma dor, é alguma coisa te avisando. Você sabe o tipo de dor. O atleta profissional... A base ainda acho que não sabe tanto isso, não sabe diferir uma dor muscular para uma lesão que já está, uma dorzinha, tal. A gente sabe de tudo isso. Vamos ter uma dorzinha ali, uma ali. Mas não é a dor. A gente tem que parar com isso de que 'você tem uma dor, é normal'. Não é normal. Tá te avisando. E isso vai avisando. Acho que eu estou aprendendo isso depois de velha. Depois de velha eu tô aprendendo. Então eu tento passar isso para as meninas. Porque era assim", defendeu.

Segundo ela, Ellen, jovem jogadora do Corinthians, teve papel fundamental neste caminho de reconhecimento. A atacante de 21 anos sofreu também uma ruptura no ligamento cruzado anterior do joelho em junho de 2022 e, um ano depois, precisou ser submetida a uma artroscopia. As duas dividiram as salas de recuperação do Corinthians, e tornaram-se muito próximas.

""Foi gostoso porque nós tínhamos pouco contato. Ela (Ellen) tinha acabado de subir da base e ela já se machucou. E aí juntou Erika e Ellen. Erika fala para caramba, Ellen não fala nada. Lascou. Porque chegou uma hora que estavam as duas falando à beça, e teve uma hora que as duas não falavam mais nada. Foi muito gostoso isso. Para mim, ela me ensinou muita coisa. Ela me ensinou muita coisa nesses dois anos juntos. Ela virou, eu brinco com ela, ela virou meu monstrinho, porque o bicho é um tourinho. Antes ela não dava um bom dia para ninguém, literalmente. Ela chegava assim, saía assim. Eu falava 'ei, levanta a cabecinha, cê tá com vergonha de que'. Hoje ela dá bom dia, toca, dá um abraço. E aí a gente, de pouquinho em pouquinho. É uma excelente jogadora, já sabe. Perfil dela é de guerreira, é de forte, mesmo. É de estar dentro, de não tirar o pézinho, de estar sempre colocando o pé ali. É de não falar 'não', ela quer sempre 'sim, sim, sim, sim'. Então eu aprendi muito com ela sobre isso daí, sobre as dores dela", afirmou Erika.

Erika e Ellen devem ser opções para a montagem do elenco que enfrentará o Palmeiras no próximo domingo, às 19h, pelo Campeonato Brasileiro. As Brabas ocupam a liderança isolada da primeira fase da competição nacional.

Confira a entrevista completa de Erika à Corinthians TV

Veja mais em: Erika e Corinthians Feminino.

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